Obesidade: Nunca é tarde para cuidar de si

O alerta de Gil Faria, Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo

Fonte: Women’s Health

Para a maioria das pessoas, a obesidade é muito mais do que uma questão estética; é uma doença que impacta a saúde física e emocional. Pode, muitas vezes, afetar a autoestima e o bem-estar psicológico, além de contribuir para o desenvolvimento de diversas patologias, como a diabetes tipo 2, doenças cardíacas, hipertensão arterial ou diversos tipos de cancro.

Hoje assinala-se o Dia Mundial da Obesidade e a expressão da doença evolui ao longo da vida. Enquanto numa idade mais jovem imperam as preocupações com questões estéticas, à medida que a idade avança, surgem cuidados com a qualidade de vida e com as limitações impostas pelo sobrepeso; e, finalmente, com o aparecimento e progressão das doenças associadas à obesidade, vêm as preocupações com o controlo e prevenção das mesmas.

Independentemente da idade, a obesidade diminui a qualidade de vida, pelo que deve ser tratada, seja em que fase for.

A cirurgia metabólica é a ferramenta mais eficaz da medicina moderna na luta contra a obesidade. Para a maioria das pessoas representa, não apenas a esperança de um corpo mais esbelto ou mais funcional, mas uma promessa de transformação para uma vida mais completa, mais ativa e mais feliz. Muitos pacientes submetidos a cirurgia metabólica identificam-se com borboletas: tendo passado grande parte da vida dentro de um casulo, a cirurgia, finalmente, permitiu-lhes desabrochar e olhar para o mundo de uma forma mais leve e jovial.

É importante ressaltar que não existe um tempo ideal para fazer uma cirurgia metabólica. O essencial é o compromisso com a saúde e o bem-estar, independentemente da idade. Atualmente, a cirurgia é recomendada para todas as faixas etárias, após a maturação óssea (habitualmente por volta dos 16 anos), e enquanto o risco cirúrgico for aceitável. Não existem, assim, limites superiores na idade até à qual se deve fazer uma intervenção. Temos sempre de avaliar os riscos inerentes ao procedimento proposto e ao doente, mas desde que esta avaliação de risco-benefício seja favorável, existe claro benefício na realização da cirurgia.

Atualmente, a cirurgia metabólica compreende uma série de procedimentos muito complexos, habitualmente executados por laparoscopia (vídeo-assistidos) e com diminuto risco de complicações. A cirurgia é um dos passos de um tratamento multidisciplinar, necessário para consolidar as incontornáveis alterações no estilo de vida. Deve ser feita por equipas experientes, de forma a minimizar os riscos e maximizar os benefícios. Importa, no entanto, referir que os riscos aumentam de forma proporcional à idade e à condição clínica; e que a perda de peso é mais acentuada em idades mais jovens. No entanto, os doentes em idade mais avançada são aqueles que mais “ganham” de forma imediata na redução do risco de complicações das doenças associadas à obesidade.

A decisão de partir para uma cirurgia para tratar a obesidade vem, muitas vezes, acompanhada de inúmeras dúvidas e incertezas. Será reversível? Tem muitos riscos? Posso ser mãe após a cirurgia? Nunca mais poderei comer de forma normal? Estas e outras dúvidas são perfeitamente legítimas, mas infundadas.

Devem ser discutidas com a equipa médica especializada todas as questões que possam surgir, para permitir uma decisão consciente, esclarecida e informada. Sendo certo que a cirurgia metabólica é a melhor opção para tratar a obesidade grave e com menor risco do que a manutenção da doença, também é certo que existem alguns riscos e possíveis complicações.

O objetivo da cirurgia metabólica não é ser reversível… A cirurgia funciona, porque estimula uma adaptação metabólica do organismo, que vai permitir a perda e manutenção do peso num nível mais saudável. No entanto, perante a ocorrência de algumas raras complicações, certas técnicas cirúrgicas podem ser reversíveis, sendo que todas elas poderão ser corrigidas cirurgicamente em casos de complicações graves.

O risco de complicações graves associado à cirurgia metabólica é, hoje em dia, muito baixo. Em mãos experientes, os riscos de complicações graves é < 2%, sendo que são cirurgias mais seguras do que, por exemplo, a operação do apêndice, da vesícula ou que um parto de termo.

A médio prazo, as complicações mais frequentes são os défices nutricionais, controláveis, desde que se cumpra a vigilância pós-operatória. A queda de cabelo, que acontece após a cirurgia, é um fenómeno temporário e que pode ser minimizado com recurso a alguns suplementos, mas que pode incomodar, principalmente as doentes do sexo feminino.

A recuperação de uma cirurgia metabólica é, atualmente, rápida e praticamente indolor. A redução da agressividade da cirurgia, associada a protocolos peri-operatórios de recuperação precoce, permite que, em muitos casos, a cirurgia possa ser realizada em regime de ambulatório, com uma permanência hospitalar inferior a 24 horas. A maioria dos doentes consegue retomar as suas rotinas normais após poucos dias e não implica longos períodos de inatividade física.

Depois do primeiro mês de pós-operatório, com a progressão na dieta e a liberalização da atividade física, os doentes podem retomar todas as suas rotinas prévias à cirurgia, sendo que, habitualmente, sentem já francas melhorias ao nível do desempenho físico. Poucos meses após a cirurgia são capazes de ingerir todo o tipo de alimentos, sendo que, de forma natural, altera-se a preferência por alimentos mais saudáveis, menos calóricos e com maior valor nutricional.

Uma dúvida que assola muitas mulheres prende-se com a capacidade para engravidar após a cirurgia. Sabemos hoje que, após o período de rápida perda de peso (cerca de 1 ano após a cirurgia), é perfeitamente seguro levar a termo uma gravidez saudável. É, aliás, mais saudável para a mãe e para o feto uma gravidez após uma cirurgia metabólica do que com obesidade ativa. As mulheres recuperam a fertilidade após a cirurgia e o desenvolvimento fetal ocorre de uma forma mais saudável e com menos complicações. Ao invés de uma preocupação, o desejo de maternidade deverá ser um motivo adicional para justificar uma cirurgia metabólica.

Por fim, algumas mulheres preocupam-se com o aspeto estético do excesso de pele após a cirurgia. É importante perceber que a cirurgia metabólica não é uma solução rápida para perder peso, mas uma ferramenta para permitir a luta a longo prazo contra a obesidade. É uma cirurgia focada na melhoria da qualidade de vida (física e psicológica), de forma saudável e sustentável. O excesso de pele pode ser uma contrariedade estética, mas existem soluções para abordar estas questões, se necessário.

Conforme vimos, a cirurgia metabólica, integrada num plano de avaliação e de acompanhamento multidisciplinar é uma opção válida em todas as etapas da vida adulta. Permite recuperar a fertilidade, melhorar a qualidade de vida e controlar as doenças associadas à obesidade. Podem existir diversas motivações para a decisão de fazer uma cirurgia, mas existe um benefício claro e muito superior aos riscos e complicações, em todas as etapas da vida. Nunca é tarde para sonhar em ter uma vida melhor; e nunca é demasiado cedo para não aproveitar essa oportunidade.

Artigo escrito por Prof. Doutor Gil Faria, Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo, Coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde, Professor da FMUP e Investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade.

Ver notícia em: https://www.womenshealth.pt/4268238394/obesidade-nunca-e-tarde-para-cuidar-de-si/

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